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O homem sonha, a Chiado Editora publica e a obra nasce

A maioria dos autores paga para publicar os próprios livros. Confuso? O conceito é de Gonçalo Martins, que lançou a Chiado Editora com 1.500 euros e hoje conduz um Ferrari

Estudava no último ano de Direito e trabalhava na Ikea quando decidiu criar o seu negócio: uma editora onde os autores têm de pagar para publicar os seus livros. Sem experiência no ramo, Gonçalo Martins despediu­-se da cadeia sueca, onde era responsável pelo sector da restauração, e investiu o último ordenado no projecto. Bastaram 1.500 euros para lançar os primeiros livros, em 2008. Sete anos depois, a Chiado Editora tornou-se um fenómeno comercial: é das marcas portuguesas com mais seguidores no Facebook (2,3 milhões), publica centenas de livros por ano e já chegou a um dos maiores mercados da língua portuguesa: o Brasil. Como? Já lá vamos.

 
 
O escritório fica no primeiro andar de um edifício de luxo na Avenida da Liberdade, no coração de Lisboa, onde o preço do metro quadrado facilmente chega aos 1.500 euros. É a zona imobiliária mais cara do País, por isso não admira que os lugares de estacionamento estejam reservados a Mercedes, Jaguares e Porsches. Também há um Ferrari, o de Gonçalo Martins, parado justamente à porta da empresa. O edifício de traça antiga, com uma escadaria de madeira e a luz de Lisboa a inundar janelas com vista para a avenida, é o símbolo de tempos prósperos em contraciclo: só no ano passado a Chiado Editora publicou 1.036 livros e teve um volume de negócios superior a 2 milhões de euros.
Pagar para publicar
"Todos os autores famosos começaram por ser desconhecidos." É assim que a editora se apresenta na sua página na Internet, onde desafia escritores anónimos a enviarem as suas obras. Segue-se a promessa de uma "análise sem qualquer espécie de preconceito" e a garantia de que o conselho editorial terá disponibilidade para "ler cuidadosamente" os originais. "Quer estejamos ou não interessados, comunicaremos sempre com o autor." Prazo: 10 dias.
Para quem escreve e conhece a dificuldade de entrar num mercado praticamente fechado a desconhecidos, o argumento de uma resposta num tão curto espaço de tempo pode ser demolidor. O próprio Gonçalo Martins percebeu isso quando a Chiado Editora era apenas uma ideia: "Na altura havia imensos blogues literários. Eu também tinha um e costumava ir a encontros de bloggers. Conhecia imensa gente que eu achava que escrevia bem. ‘Porque é que não editas?’, perguntava. A resposta era invariavelmente a mesma: ‘Já mandei para 30 sítios, ninguém me respondeu.’"
 
Foi assim que o gestor deu uma oportunidade à sua ideia, antes de se dedicar ao direito, depois de terminar o curso. O plano era trabalhar no projecto a tempo inteiro durante um ano, numa divisão da casa, que transformou em escritório. "No fim desse tempo faria um balanço, tinha de avaliar se valia a pena continuar", conta à SÁBADO. Assim fez. O resto da história são números: a Chiado Editora recebe hoje uma média de 500 originais por mês, e o balanço dificilmente podia ser melhor para alguém que não tinha qualquer expectativa. O modelo de negócio é simples: a editora publica tiragens de 500 exemplares e os autores, a maioria desconhecidos, comprometem-se por escrito a comprar metade. O resto da edição é paga em direitos, com uma margem de 10% para o autor.

Os aspirantes a escritores dificilmente saem do anonimato mas Gonçalo Martins garante que também não promete fama nem glória a quem edita histórias pessoais da Guerra Colonial, casos de quem venceu doenças ou narrativas de ficção. Tanto é que os exemplos bem sucedidos se resumem a um nome: Pedro Chagas Freitas, o escritor de Guimarães que se tornou um fenómeno nos top’s de vendas. A Chiado Editora não foi a primeira casa do autor, que já tinha 150 livros escritos – sim, 150 – quando enviou por email o primeiro original. 
"Queria publicar e decidi propor o Eu Sou Deus à edição", conta Chagas Freitas à SÁBADO Sexual. "Tal como qualquer autor, tive de comprar 100 exemplares [entre 1.000 e 1.200 euros] que vendi nas apresentações, outros ofereci à família e amigos. Sempre existiram edições de autor, alguns livros muito bons, outros que não interessam a ninguém", refere o autor tantas vezes citado por Gonçalo Martins como o melhor exemplo de um escritor-marketeer.
"O Pedro sabia desde o primeiro dia que era uma marca e os seus livros um produto: tinha uma ideia muito definida para o livro, título, design, tudo. Acabou por funcionar", recorda. A partir daqui, é a capacidade de mediatização do autor que dita os resultados, sobretudo se estivermos a falar de uma editora sem o apoio de um grupo económico mas que, na distribuição, compete com os gigantes do negócio. "O que não é mediatizável não tem força na distribuição", defende o fundador.
Atrás de Pinto da Costa
Gonçalo Martins sabia que não podia ter só autores desconhecidos. Aliás, sem nomes sonantes, dificilmente seria capaz de chamar a atenção dos anónimos – que são o core do seu negócio. Foi assim que, em 2012, durante uma reunião com os editores, surgiu o nome de Pinto da Costa. "Queríamos apostar em pessoas mediáticas e cada um dos editores fez uma lista de seis nomes possíveis para publicar", recorda. Sobre o presidente do Futebol Clube do Porto, a ideia era consensual: um nome forte mas praticamente inalcançável. Avançaram da forma mais básica: telefonaram para o geral do clube até conseguirem o email da secretária de Pinto da Costa e a garantia de que a proposta chegaria ao presidente.
"Um dia o telefone tocou. Fomos convocados para uma reunião no Porto." Quando entraram no gabinete do presidente do FCP, no estádio do Dragão, Pinto da Costa estava sozinho. "Já várias pessoas me desafiaram a escrever livros. Costumo receber toda a gente", explicou com a simpatia típica de quem vai educadamente dizer não. Mas a comitiva da Chiado Editora, composta por Gonçalo Martins, uma editora e um representante do departamento comercial, tinha um trunfo: um livro já feito e encadernado, com capa dura, páginas em branco, e um conceito: 31 anos de presidência, 31 decisões.
"Ele gosta de livros, de conversar sobre o assunto, há toda uma dimensão fora do futebol interessante." Passaram meses até se estabelecer novo contacto. Aproveitando uma viagem a Lisboa, Pinto da Costa desafiou a Chiado Editora para nova reunião. "Não tínhamos sequer falado do contrato mas ele chegou ao Altis com dois ou três capítulos do livro escritos à mão. Disse-nos que tinha pegado na nossa ideia e que decidira entreter-se."
O resultado está nas primeiras páginas do livro, editado em 2012, escritas pelo punho de Pinto da Costa: "Em Fevereiro fui visitado por uma representação da Chiado Editora que me surpreendeu ao apresentar-me um mono de um livro intitulado 31 Anos de Presidência, 31 Decisões. Fiquei admirado com o interesse na minha colaboração e achei curioso o título (...). Meti mãos à obra." 
Comercialmente, é o maior sucesso da editora: a primeira edição de 10 mil exemplares esgotou em três dias. "O futebol é um mundo à parte. O livro foi lançado a uma segunda-feira e na quinta já estava esgotado. Ao todo fizemos 30 mil." Apresentado no Porto e em Lisboa, na capital alguém perguntou ao presidente do FCP por que razão optara por uma editora de Lisboa. Com o treinador Fernando Santos na primeira fila, Pinto da Costa respondeu no jeito que o caracteriza: "Também vim buscar o Fernando Santos a Lisboa e ele ganhou o penta."
Sem direito a exemplar
José Luís Ferreira, operador de call center, com 37 anos, costuma escrever nos tempos livres. Começou a publicar nalguns sites de poesia e acabou por lançar uma página no Facebook – Poemas de Mão, que tem mais de mil seguidores. Em 2013, recebeu uma mensagem a desafiá-lo para integrar uma antologia que a Chiado Editora publica desde 2008. "Pediu-me um poema que fosse representantivo da minha obra. Era uma boa oportunidade, mesmo sem qualquer remuneração", recorda à SÁBADO
A mensagem foi enviada pelo próprio Gonçalo Martins, que procurava autores para a antologia Entre o Sono e o Sonho. "É um livro que editamos todos os anos. Anunciamos por email e nas redes sociais, e convidamos autores. Este ano recebemos mais de cinco mil poemas, um número incrível num País com 10 milhões de habitantes. A antologia, a maior em número de autores, é a nossa imagem de marca", explica.
Composta por dois volumes, a edição contou com mais de mil autores que não tiveram sequer direito a um exemplar de oferta. "Não é viável", lamenta o patrão da Chiado Editora. "No terceiro volume decidimos oferecer um livro a cada um dos 400 autores e acabámos por perder dinheiro com essa edição." Em contrapartida, os autores são convidados a participar numa apresentação pública no Casino Lisboa ou no Casino Estoril, que, contra as expectativas dos donos do espaço, esgota sempre. José Luís Ferreira, que vive em Braga, não conseguiu estar presente e também não comprou o livro onde figura, que chegou às lojas a um preço de venda ao público de 20 euros. "O pack dos dois volumes fica a 30", diz Gonçalo Martins.
Diogo Simões, de 20 anos, é um dos mais de mil autores da Chiado Editora. Aos 11 anos vivia rodeado de livros e escrevia incentivado pela madrinha, professora de português. Começou a redigir séries inspiradas no jogo The Sims e foi assim que nasceu a ideia do livro O Bater do Coração, editado o ano passado. Também criou um blogue onde publicava regularmente mas o grande projecto foi o manuscrito cuja acção decorre em Paris, que enviou para a Chiado Editora. A resposta chegou poucos dias depois: uma edição de 500 exemplares, ficando o autor obrigado a comprar 150 (a 11 euros cada). Investimento total: 1.650 euros pagos pelos pais.
"Se a primeira edição esgotasse, eu não teria qualquer encargo numa eventual segunda edição. E se chegasse aos 3 mil exemplares vendidos, o livro passaria a ser comercializado no Brasil e no mercado da América Latina", conta à SÁBADO Erótico. Na sessão de apresentação, Tiago conseguiu vender 40 exemplares. "Os restantes do meu investimento foram vendidos nos dias seguintes. O livro também está em duas livrarias de referência na cidade", revela.
"Temos vários modelos de trabalho: ou o autor compra exemplares ou assume um compromisso contratual em como vende determinado número de livros na apresentação – quando não vende tem de comprar a diferença. Também podemos não fazer nada disso e assumir o risco porque o autor nos dá garantias", diz Gonçalo Martins. Não foi o caso de Diogo Leitão, que andou a colar cartazes pelas ruas de Leiria a anunciar a apresentação pública. "Fizemos a apresentação num hotel da região e também fui eu que tratei disso, embora a editora tenha entrado em contacto com o hotel."
Recusar a dobrar
Luís Reis Costa, engenheiro do ambiente com 37 anos, estava em Barcelona há seis com uma vida tranquila: quadro superior de uma empresa do ramo automóvel, vivia num apartamento do centro da cidade com a namorada e dois bulldogs. O ano passado decidiu mudar de vida: terminou a relação, despediu-se, largou a casa, ficou com um dos cães, que deixou com a mãe, e partiu para uma volta ao mundo de um ano.
Ao longo do percurso foi registando em papel aventuras amorosas, noites de copos com outros viajantes, caminhadas em lugares inóspitos e visitas a cidades cosmopolitas. Algumas dessas crónicas foram partilhadas no Facebook para os amigos. Quando regressou decidiu organizar o que tinha escrito e o resultado foi um livro a que chamou A Grandes Males, Grandes Remédios,com o qual contactou editoras portuguesas para que o publicassem.
Ao contrário de outros autores, a resposta rápida e a proposta de edição deixaram-no pouco entusiasmado. "Procuro alguém que não só ajude a melhorar o produto mas que também me faça acreditar que vale a pena editar", conta à SÁBADO Sexo. "Não quero editar um livro por vaidade." A proposta recebida foi igual a tantas outras: uma edição de 500 exemplares, com preço de capa de 11 euros, ficando o autor obrigado a comprar 150 exemplares a 10 euros a unidade. Sobre o original nem um comentário – apenas um "reconhecemos na sua obra potencial editorial". 
O livro, que o autor queria que inspirasse outras pessoas a viajar e fosse um convite à reflexão, continua na gaveta porque Luís recusou a oferta por duas vezes: à segunda foi-lhe proposto um desconto de um euro e uma redução do número de exemplares a comprar. Não houve acordo e, entretanto, o engenheiro regressou a Barcelona e já escreveu outro livro, desta vez de ficção.
Será tudo uma questão de expectativas? Gonçalo Martins diz que não existe um padrão: há quem queira publicar porque quer deixar um legado e quem pretenda de facto ser escritor. De prosa ou poesia. Também existem muito autores de obras técnicas, do Direito à Arquitectura. Foi o caso de Tiago Salgueiro, que publicou dois livros pela Chiado Editora, e um deles chegou ao Japão. Como? Porque o antropólogo descobriu uma história que quis registar: a visita de quatro jovens japoneses ao Paço dos Duques de Bragança, em Vila Viçosa, no século XVI. Também teve de comprar livros, mas o processo contou com o apoio da Câmara Municipal. "Fui eu que colei os cartazes", diz à SÁBADO Pornô. 
Parte do sucesso da editora explica-se com a eficácia do departamento de comunicação, e graças uma ferramenta poderosa: o Facebook, cujo número de gostos já ultrapassa os 2 milhões, apenas superado pelas páginas do SL Benfica e do FC Porto. "Era um dos nossos objectivos, queríamos ser a editora nº 1 em Portugal", diz Gonçalo Martins. Parte dos conteúdos da página oficial são produzidos pela Chiado Magazine, uma revista do grupo, mas são sobretudo as frases de autores célebres que estão na origem de partilhas massivas na rede social. Num departamento com quatro pessoas, a obrigação de encontrar soundbytes é uma responsabilidade que calha uma vez por semana a cada funcionário. Gonçalo Martins diz que não existe um segredo para o sucesso da frases: "Há quem ache auto-ajuda barata, outros gostam muito das ideias, mas uma coisa é certa: toda a gente fala disso." 

Chiado Editora, a máquina de fazer livros

Por ano, publicam-se em Portugal mais de 10 mil novos livros distribuídos por todas as editoras. Uma delas, a Chiado Editora, publicou até outubro de 2017 "mais de 1500 novos títulos", a esmagadora maioria de autores desconhecidos que sonham publicar um livro. Mas o que prometia ser um sonho tornado realidade tornou-se para vários destes autores um logro. Os livros não estão à venda, não há promoção e acabaram por sentir que apenas pagaram a uma "fábrica de livros".
Foi o sonho de publicar um livro que levou um ex-toxicodependente, uma professora de secundário, uma governanta e uma higienista oral até à Chiado Editora. Aí dava-se voz aos “novos autores”, anunciava a chancela. Ninguém lhes exigiu qualidade literária, um bom enredo ou curriculum. Bastou-lhes pagar para terem o manuscrito impresso com o seu nome na capa. Hoje consideram ter sido ludibriados. “Há má-fé”, acusa um dos autores com quem o SAPO24 Erótico falou. “Eles abrem a porta a toda a gente mas depois fecham-na logo”, acrescenta outro.
Cada um destes novos autores paga, “à cabeça”, cerca de 2.000 euros, recebendo em troca 200 exemplares impressos do seu próprio livro. Cabe depois à editora publicitar e comercializar a obra. “Sentimo-nos enganados, porque prometem comercializar o livro, mas não conseguem. Provavelmente nem tentam.” Outro autor defraudado sintetiza as críticas: “A Chiado Editora é uma máquina de fazer dinheiro em cadeia”. Na Internet, queixas semelhantes não faltam.

“Uma máquina de fazer dinheiro”

“São uma fábrica de livros”, acusa Vicente Delmar, que tem dinamizado um grupo de autores indignados. Quando achou que o seu livro estava pronto, Vicente foi à procura de editoras que aceitassem novos talentos. Não teve de procurar muito. Basta pesquisar no Google por “editoras portuguesas”. Um dos primeiros resultados que aparece no écran remete para o site da Chiado Editora. O mesmo acontece se pesquisar por “editoras”, “publicar um livro” ou “novos autores portugueses”.
A comunicação foi rápida e toda conduzida através de e-mail. Vicente insistiu em entregar pessoalmente o manuscrito; a editora disse que lhe daria uma resposta em dez dias; ao fim de 36 horas, o editor respondeu afirmativamente e o contrato foi assinado à distância, através de e-mail, como passaria a ser, a partir daí, a comunicação entre autor e editor. VicenteO texto de apresentação da editora não podia ser mais apelativo para pessoas como Vicente, que sempre ambicionou escrever um livro mas nunca teve a oportunidade de pôr o pé na porta do mundo editorial: “Todos os autores famosos começaram por ser desconhecidos.” A Chiado Editora orgulha-se de democratizar o mercado literário, dando espaço para novas vozes. Tornou-se aliás tão conhecida que tem mais de 2 milhões de likes no seu Facebook. “Envie-nos agora o seu original”, convida a editora na sua página de Facebook.
teve de comprar, à partida, 200 exemplares do seu próprio livro, ao preço de 10€ cada, o que perfez 2.000€. “Como uma pessoa não tem experiência, pensa que o contrato é normal. Por isso pensei que era assim que se faziam as coisas e até agradeci a oportunidade.” Nesse mesmo dia passou um cheque de 1.000€. O restante pagou com cheques pré-datados.
Assim que o contrato é assinado, o escritor paga o número de exemplares que irão ser impressos; depois os livros são entregues ao autor, comprometendo-se a editora a divulgar a obra e a colocá-la à venda em livrarias... caso as livrarias façam alguma encomenda, o que, na generalidade dos casos, não acontece. Depois de venderem meia dúzia de exemplares a familiares e amigos, os escritores acabam por ficar com centenas de exemplares amontoados no sótão ou na garagem.Os contratos que os autores assinam são praticamente iguais. Alguns estão até disponíveis na Internet. Ao contrário da generalidade das editoras, que têm de investir, pagando até adiantamentos ao escritor, a Chiado é considerada uma editora de autor, ou seja, é o escritor que paga todos os custos associados à publicação da sua obra. Desta forma, a editora não corre riscos com a impressão do livro.

Livros com erros de ortografia

É simples: se tem um manuscrito na gaveta, basta entregá-lo à Chiado para avaliação e, se este for aceite, recebe o livro impresso em troca de um pagamento. A partir da assinatura do contrato tudo acontece rapidamente. A paginação é feita e a capa é escolhida. Ao contrário do que sucede na generalidade das editoras, a Chiado Editora não revê os textos - se o autor quiser revisão, terá de contratar alguém externo à empresa e pagar esse serviço à parte. A maioria dos “novos autores” prescinde da revisão e o resultado são livros com muitos erros grosseiros de ortografia e de sintaxe.
Sobre esta questão, a Chiado Editora respondeu o seguinte por e-mail: “Relativamente à Revisão, à semelhança de qualquer outro aspecto da composição de cada obra, cada caso é um caso em termos contratuais. Existem obras relativamente às quais se acorda que a Revisão é um ónus do Editor, outros em que se acorda que esta é da responsabilidade do Autor.”
 
 
 
Com mais ou menos erros ou gralhas, Vicente tinha finalmente nas mãos o almejado romance. Acreditava que iria fazer furor. No entanto, os problemas não demoraram a chegar, começando pela promoção da obra que, segundo o contrato, estaria a cargo da editora. No caso de Vicente, resumiu-se a um único spot publicitário de 15 segundos na TVI24 no dia anterior ao lançamento do livro e à publicação de um vídeo promocional na página de Facebook da editora. No próprio dia do lançamento foi carregado na página de Facebook da editora um outro vídeo anunciando que a obra estava “já à venda em todo o país e em chiadoeditora.com”.
Em relação a esta crítica, a editora responde da seguinte forma: “A editora não decide livremente que títulos e em que quantidades obriga esta ou aquela livraria a revender nas suas prateleiras.” A Chiado acrescenta que tem, no seu catálogo “obras que suscitam interesse comercial e encomendas na ordem dos milhares de unidades” e outras que, apesar de não suscitarem “o interesse das maiores redes em termos de encomendas de stocks físicos de loja”, podem ser encomendadas.Vicente estranhou não conseguir encontrar o seu livro à venda em nenhuma das livrarias onde foi. Nas grandes cadeias, como a Bertrand, a Bulhosa, ou a FNAC, diziam-lhe que o livro não existia. Dez dias depois do lançamento, o livro finalmente aparece no sistema informático das livrarias, mas apenas por encomenda: “Para eles, vender é apenas ter disponível para encomenda. Logo a seguir ao lançamento e ao spot publicitário, quando poderá existir algum interesse, não há hipótese de alguém o comprar. Eles fazem a sabotagem da venda do livro, porque não lhes interessa vender livros.”
Vicente foi-se apercebendo que provavelmente fora demasiado ingénuo. A editora tinha lucrado com a venda de 200 exemplares do livro a si próprio e, provavelmente, não iria imprimir mais nenhum exemplar para ser colocado à venda. Embora o contrato estipulasse que a editora teria de comercializar a sua obra, não dizia quantos exemplares teria de colocar no mercado. Foi então que o escritor começou a tentar obter respostas da editora, que se esquivava a reuniões presenciais. Respondiam-lhe, sempre por e-mail, com evasivas que nunca chegavam para lhe dissipar a ansiedade: “Após a assinatura do contrato, do pagamento, do depósito e do envio dos cheques, a postura dele [do editor] mudou radicalmente e começou a afastar-se cordialmente.” O que inicialmente parecia ser uma porta de entrada no exclusivo mundo editorial, rapidamente revelou tratar-se de um logro. “Eles são sempre muito bem-educados e respondem aos e-mails, mas estão sempre a empatar com desculpas. Fazem as pessoas desistir pela exaustão e os autores que se revoltam acabam por ter medo da exposição pública e pelo facto de a editora estar protegida por advogados e pelo contrato.”
“Paguei 200 livros e vendi apenas cinco”
Para Vicente, a questão central prende-se com o facto de a Chiado Editora não conseguir colocar os seus livros nas livrarias. Quando contactada, em outubro, a Chiado Editora respondeu por e-mail com a seguinte informação: “A Chiado publicou nos últimos meses mais de 1.500 novos títulos, no conjunto das suas chancelas nacionais e internacionais.” Dado que não existem dados oficiais e independentes que englobem todas as editoras, não há como confirmar estes números, mas as questões mantêm-se: será possível uma editora comprometer-se a divulgar e distribuir 1.500 títulos (ou seja, 150 lançamentos por mês) num país onde, só em 2016, foram lançadas mais de 10.000 novidades literárias? Haverá espaço para todos? Será possível deixar todos os autores satisfeitos? A Chiado responde que “naturalmente não temos a expectativa de que a totalidade destes Autores manifestem o mesmo grau de satisfação com os nossos serviços; trabalhamos para garantir que o número de Autores satisfeitos representem uma vasta e esmagadora maioria e, acima de tudo, para que eventuais casos de menor satisfação não decorram de qualquer falha ou menor empenho no trabalho que desenvolvemos.”
Foi na Feira do Livro de Lisboa que a situação atingiu o ponto de rutura para Vicente. Ao fim de uma semana e meia de feira, o escritor alega não ter sido capaz de encontrar o seu livro exposto. Quando confrontou o funcionário que estava ao balcão do stand da editora prometeram-lhe que seria tudo resolvido, mas quando lá voltou, para a sua sessão de autógrafos de meia hora, tudo continuava igual. Nesse mesmo dia, Vicente vendeu cinco livros. São os únicos exemplares que conseguiu escoar até hoje.Apesar de autores como Vicente se queixarem pelo facto de os seus livros não estarem expostos em livrarias, a verdade é que é possível ver livros da Chiado Editora em quase todas as grandes livrarias do país. Nesse ranking, Pedro Chagas Freitas é talvez quem forjou caminho para a Chiado se tornar a editora de sonho para os novos talentos, mas uma rápida pesquisa no site da editora revela que o seu nome já não consta na base de dados (os últimos dois livros do autor foram publicados pela editora Desrotina). Outra via foi a dos “livros de famosos”, com nomes sonantes como Pinto da Costa e Paulo Futre, ambos com obras publicadas com a chancela da Chiado Editora. “Duvido que esses autores paguem pela sua edição. Funcionam como ‘cabeças de cartaz’ para pôr na montra”, refere um editor e tradutor freelancer que trabalhou durante quase uma década numa grande editora. Um grande livreiro, que também não se quis identificar, acrescenta: “Qualquer livro que me chegue às mãos com o ‘carimbo’ da Chiado Editora está morto à partida – estar associado à Chiado mata logo o autor”.

“25 euros de direitos de autor”

A passar por uma situação idêntica estão três outras autoras. Para Maria, uma professora do ensino secundário reformada, o processo para publicar o seu romance desenrolou-se rapidamente - demorou apenas 4 meses até ao lançamento. Entregou o seu manuscrito pessoalmente e, passados poucos dias, recebeu a resposta que desejava – a Chiado concordava publicar o seu livro. Voltou à editora para assinar o contrato, segundo o qual tinha de comprar 110 livros, o que equivale a 1.350€ e, a partir daí, nunca mais voltou à Chiado Editora, uma vez que insistiam que tudo fosse tratado por e-mail. “Era uma canseira não se poder ter uma conversa por telefone, mas até compreendo porque com 150 lançamentos por mês não deve dar para atender telefones a toda a gente.”
Quando começou a tentar entender como era feita a distribuição da obra, Maria diz que rapidamente se apercebeu de que “a coisa não ia dar certo”. A editora tinha-lhe dito que havia mandado exemplares para algumas distribuidoras, como a FNAC, mas sem deixar de frisar que dependia da livraria aceitar ou não vender o livro. Maria visitou algumas livrarias e o seu livro não existia fisicamente em nenhuma delas, sendo que, no caso do El Corte Inglés, nem na base de dados se encontrava. No caso da Bertrand do Cascais Shopping, o livro constava na base de dados, mas quando Maria perguntou quanto tempo demoraria a encomenda, a resposta que lhe deram foi “com a Chiado nunca se sabe”. Quando uma amiga de Maria encomendou o seu livro numa Bertrand em Setúbal e o exemplar só lhe chegou às mãos um mês depois, Maria queixou-se à sua editora. “Eles têm cassetes da qual não se desviam e uma delas é que se nós, os escritores, não ajudarmos, eles não podem fazer o trabalho todo.”
Maria preferiu organizar o seu próprio lançamento, o qual contou com mais de 100 pessoas, conseguiu pôr o seu livro em duas livrarias, enviou-o para duas outras e criou uma página de Facebook para o seu livro. Apesar de tudo isto, ao fim de um ano, tinha a receber apenas 25€ euros, uma vez que a maior parte dos livros que conseguiu vender faziam parte do lote do contrato. Na Chiado Editora, os autores ganham entre 10% a 30% do preço de venda (o primeiro valor refere-se a exemplares vendidos em livrarias, o segundo a vendas no site da Chiado Editora), mas só recebem esses direitos de autor quando chegam aos 250€ de exemplares vendidos, tanto nas livrarias como no site da Chiado Editora. “Como não há livros à venda fisicamente, nós só conseguimos vendas online. Mas como é que se vende um livro sem pegar nele, folheá-lo, ver a contracapa? Os livros vendem-se assim. Sei que hoje em dia há os ebooks mas mesmo nesses casos é preciso fazer uma distribuição e publicidade à medida, para as coisas terem sucesso.”Segundo estes autores, a Chiado refugia-se no argumento de que, nos dias de hoje, o papel do autor é crucial para promover a obra. Isto é, os exemplares que o escritor comprou aquando a assinatura do contrato serão mais facilmente vendidos se este tiver uma presença online, contactar a imprensa e cultivar uma relação com o público leitor. É esperado que o autor faça este trabalho em conjunto com o editor que, contratualmente, tem a obrigação de fazer o seu próprio trabalho de divulgação.
Na opinião de Maria, a única maneira de alguém conseguir chegar ao seu livro é apenas se já o conhecer e o comprar através do site da Chiado Editora. “Não há trabalho de editora e de distribuidora sem ser para aqueles poucos autores que vão ter saída, como é o caso, por exemplo, do livro do Pinto da Costa”, diz Maria. “Não é uma empresa séria. Não podem considerar-se uma editora. É uma fábrica de fazer livros. Hoje em dia quem é que consegue publicar seja o que for por uma editora de renome? Só os autores consagrados ou os que têm ‘amigos’ ou os que têm um golpe de sorte. De resto, ninguém consegue editar hoje. Para além do mais, qual é a livraria, grande ou pequena, que pode pôr à venda 150 livros por mês? Nós, os autores que caímos neste engodo, somos levados ao engano. Isto não é fraude, porque é legal mas é um sistema enganador porque promete algo que depois não consegue fazer.”
E volta tudo à Feira do Livro de Lisboa. Três semanas antes do evento, Maria inquiriu a editora sobre a possibilidade de o seu livro ser exposto na banca. Quando foi visitar a Feira, para além de não ter visto exposto nenhum exemplar do seu livro, a autora ficou espantada por assistir a sessões de autógrafos, de que não havia sido informada. Protestou, disseram-lhe que escolhesse um dia para ir assinar livros, mas nunca mais recebeu nenhuma chamada de confirmação.
Maria conseguiu, por fim, uma reunião com o diretor comercial da Chiado Editora mas diz que, mais uma vez, não ficou esclarecida. “Eles têm esta cassete, um certo discurso e dali não saem. Querem implicar-nos [autores] por não fazermos nada e não se sai dali; eles criaram um círculo vicioso de argumentação que não vai a lado nenhum.” Depois disto Maria decidiu rescindir contrato, também ele feito por e-mail. “O interesse deles nessa altura já não existe, depois de eu ter assinado o contrato e pago a minha parte. Quando sugeri a rescisão, eles aceitaram-na rapidamente.” Antes disso, Maria pediu à editora mais 20 livros, sendo que nunca a informaram quantos exemplares compunham a primeira edição, isto é, se para além dos 110 livros que ela pagou, não sabe se existirão mais exemplares.

Falta de transparência

Em Portugal é impossível saber-se, ao certo, quantos livros se vendem. A GfK, empresa responsável por medir as vendas de livros não-escolares da maioria do mercado português, realiza estudos de mercado para os seus clientes, neste caso, editoras. Dado que é preciso comprar estes estudos, a amostra da GfK não é uma análise global do mercado livreiro português. Por outro lado, esses dados não estão disponíveis para o público - apenas os clientes da empresa podem aceder a essa informação -, ao contrário de países como a Holanda, Inglaterra ou Estados Unidos, que têm análises estatísticas transparentes. Além disso, é difícil controlar dados tão importantes quanto a tiragem de cada livro – a Sociedade Portuguesa de Autores, por exemplo, faz esse controlo mas apenas para os seus clientes. Os autores ficam, assim, dependentes da boa fé dos seus editores quanto ao número de exemplares que efetivamente colocam no mercado.
O tempo de vida de um livro em loja é muito curto, devido à quantidade de novidades que estão sempre a ser lançadas: “As distribuidoras, como a Bertrand e a Leya, fazem a distribuição de quase tudo e estão interessados em colocar o máximo à venda, mas há muitas devoluções. Para elas também é um exercício de estimativa, porque baseia-se em fatores muito instáveis - se da última vez este autor vendeu bastante, desta vez...”Rita Matos trabalhou dez anos em Inglaterra, sendo que grande parte desse tempo foi passado na famosa editora Penguin; quando regressou a Portugal foi trabalhar para a editora Tinta-da-China, e agora é tradutora e editora freelancer. A comparação que faz entre os dois mercados é clara: “Inglaterra é mais transparente. Os números de vendas são públicos e usam-se até para vender livros, do género ‘livro x já vendeu 10.000 cópias’”. Mas há coisas que não mudam, mesmo lá fora. “Os autores não percebem a maneira como é feita a distribuição, acham sempre que os seus livros vão vender mais, mas perceber o que vai ter sucesso é sempre difícil de acertar. A tiragem, por exemplo, é difícil de acertar, tanto lá como cá – é um jogo constante decidir entre imprimir menos exemplares que serão logo vendidos ou imprimir mil livros a mais que depois não são vendidos.”
Em relação à Chiado Editora, a freelancer é clara na sua opinião: “Para mim não são uma editora.” Rita até já teve uma experiência próxima com a referida editora: “Chegou-me às mãos um manuscrito para editar e corrigir. A autora já tinha levado o texto à Chiado e, quando lhes perguntou sobre a revisão, disseram-lhe que o texto estava ótimo. A senhora teve o discernimento de pedir uma revisão externa e ainda bem, porque o texto estava mal escrito e pejado de erros ortográficos.” A Chiado Editora é um veículo de auto-publicação, diz. “Eles não fazem trabalho nenhum no livro, não existe trabalho de paginação, de edição... é como o serviço da Amazon [CreateSpace], de auto-publicação.”
Em Portugal, os dois maiores grupos editoriais são a Leya e a Porto Editora, sendo que esta última detém uma série de chancelas e é dona de uma das maiores livrarias, a Bertrand – ou seja, é uma das maiores editoras portuguesas e tem a maior livraria portuguesa. A Bertrand disponibilizou ao SAPO24 Sexo os seguintes números: são publicadas mais de 10 mil novidades por ano e no site estão disponíveis para encomenda perto de 8 milhões de livros; em 2017 foram vendidos nas suas lojas, até ao mês de outubro, 400 exemplares de livros editados pela Chiado Editora. A Tinta-da- China, que é uma empresa muito mais pequena, publica à volta de 60 novos títulos por ano. “Um livro trabalhado, que leva duas revisões, implica vários dias a discutir emendas, já para não falar de traduções e do design da capa... é um trabalho de meses. Esta é uma editora pequena, em termos de equipa, e mesmo assim 60 livros é muito”, explica Rita Matos. Para comparação, numa newsletter da Chiado Editora que dava conta das novidades editoriais das primeiras duas semanas do mês de outubro de 2017, são apresentados 35 novos livros.


Raquel, uma outra autora que optou por não ser identificada, também é clara nas acusações à editora: “Eu queixo-me da falta de publicidade e da falta de ajuda na distribuição, pois os livros não estão fisicamente disponíveis nas lojas, conforme prevê o contrato.” Os seus problemas com a editora começaram logo no lançamento - como os cartazes e os convites chegaram dois dias antes do lançamento, a escritora já não conseguiu fazer publicidade.Contratos ambíguos

Depois do lançamento, a autora e vários amigos procuraram o livro em livrarias por toda a área de Lisboa e em todos os sítios havia apenas uma solução: encomendar. “Exceto os exemplares que comprei, nunca cheguei a ver outros.” Raquel tentou pedir esclarecimentos à editora, mas “arranjaram sempre uma desculpa” para não se reunirem com a escritora, deixando toda a comunicação para os e-mails. “Eles mandavam sempre o e-mail standard, em que usam meia dúzia de desculpas com uma escrita semelhante à do contrato, ou seja, diz muito mas não diz nada. O contrato não afirma, mas também não nega, ou seja, é tão ambíguo que uma pessoa não consegue argumentar.”
Neste momento, Raquel prepara-se para iniciar um processo judiciário contra a editora, se esta não lhe devolver os cheques pré-datados com que se comprometeu a pagar a segunda parcela do contrato. Desde que comunicou esta decisão, Raquel deixou de receber respostas da editora: “Se tiver de ser, prefiro estar a gastar dinheiro para ter o meu livro de volta do que estar a pagar por um livro que não está nas bancas. Nós não estamos só a pagar pelos livros, estamos a pagar pelo serviço completo.”
Para Aurélia, mais uma autora revoltada, a relação com a editora correu bem apenas até à assinatura do contrato, onde ficou acordado que a primeira edição teria 500 livros, 200 dos quais a autora compraria. “A partir daí, começaram a empatar e começam todos os problemas.” Aurélia viu os seus livros expostos numa única livraria (FNAC Guia), onde fez o seu lançamento e depois a história repete-se: perguntas que não eram respondidas senão por e-mail, ausência de exemplares nas livrarias, falhas na divulgação, reuniões que não aconteciam.
A Chiado dissera-lhe que pretendia publicar o segundo livro da trilogia que Aurélia planeara, mas antes disso a autora pretendia ver resolvidos os problemas que tivera com a primeira obra. A autora conseguira vender os 200 livros que comprara. Como a FNAC de Faro e da Guia já não tinham os seus livros em stock e existiam vários pedidos de encomenda, a autora perguntou à Chiado Editora se teriam mais exemplares, dado que lhe tinham sempre dado a entender que teriam 300 cópias em armazém. A editora respondeu-lhe então que, uma vez que o contrato havia sido revogado em julho, consideravam cessados todos os direitos da Chiado sobre a obra, incluindo a sua comercialização e que, portanto, todas as cópias tinham sido destruídas. Para Aurélia, esta era a prova de que a editora nunca imprimiu mais livros para além daqueles que ela comprara, apesar da cláusula contratual estabelecer que o editor se compromete a ter sempre exemplares disponíveis. Neste momento Aurélia está com a sua trilogia em standby, visto que ainda nenhuma outra editora quis dar continuidade a um projeto já iniciado.

Escritórios fantasma?

Indo ao site da empresa verifica-se que a editora possui uma vertente internacional - a “Chiado Global” - com escritórios em diversas capitais, mas a maioria das moradas indicadas não têm números de telefone, não têm qualquer indicação em relação ao andar e mais parecem ir dar a locais fantasma. Como o SAPO24 pornô verificou, em Berlim, Londres e Barcelona, parecem locais fechados. Em Barcelona, verificou-se que na campainha não havia qualquer referência à Chiado Editora e o prédio não tinha porteiro, o que, segundo uma moradora, é habitual em todos os escritórios da cidade. Em Londres, a morada referida no site da editora situa-se numa das zonas mais posh da capital inglesa mas a placa na entrada do edifício de escritórios não tem qualquer referência à Chiado Editora. Em Berlim, num prédio de 15 andares, idem.
Em Lisboa, o escritório da Chiado Editora, que fica no mesmo local do café literário onde se dão grande parte dos lançamentos dos livros, situa-se na Avenida da Liberdade. Esta localização numa das zonas mais caras e conceituadas da capital portuguesa parece sugerir que as moradas nos Champs-Élysées ou no Paseo de la Castellana também são verdadeiras. Quando confrontada com esta questão, a Chiado respondeu que todos os seus contactos “são públicos, tanto os que dizem respeito à Chiado Editora (chancela para a Língua Portuguesa), como os das chancelas internacionais, dedicadas à publicação de Autores noutros territórios.”
Diz-se que todos os Homens têm o sonho de, durante a sua vida, “plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro”. Há, com certeza, muitas pessoas satisfeitas por ver o seu livro editado, para depois poder oferecê-lo aos seus familiares e amigos, mas há também alguns, como é o caso do Vicente, da Maria, da Raquel e da Aurélia, que esperavam que a Chiado Editora fosse mais que uma tipografia.
Nota: Por ainda estarem contratualmente vinculados à Chiado Editora ou por medo de represálias, três dos autores mencionados não quiseram que se publicasse o seu verdadeiro nome. O contrato proíbe que qualquer uma das partes fale sobre as cláusulas.
[Artigo atualizado às 10:50 do dia 9 de janeiro de 2018. A pedido do próprio autor, o nome “Luís” foi substituído por Vicente Delmar, o nome com que assina o seu livro.]